ilme de Daniel Filho sobre a vida do médium mais importante do Brasil alavanca onda espírita nos veículos de comunicação
PorJonas Furtado 30 de Março de 2010 às 11:22
Se estivesse vivo, Chico Xavier completaria cem anos no dia 2 de abril, em meio às celebrações da Páscoa, em plena Sexta-Feira Santa. A coincidência com o feriado religioso motivou os responsáveis por Chico Xavier – O Filme a marcar a estreia nacional da obra para o dia do centenário do nascimento do maior nome do espiritismo no Brasil. A decisão foi, ao mesmo tempo, uma forma de homenagem ao médium,
que faleceu há oito anos, e uma sacada comercial para aproveitar a oportunidade única.
Por superstição, distribuidores e produtores não gostam de fazer estimativas para a bilheteria de seus filmes. Mas a expectativa silenciosa entre os envolvidos com o projeto é a de que o encontro entre o diretor Daniel Filho – tido como uma espécie de Midas do cinema nacional -, e a saga de um ícone do porte de Chico Xavier motive um número recorde de pessoas nas salas de cinema para assistir a uma das 300 cópias distribuídas inicialmente por todo o País.
“Tanto o Cinemark quanto o Kinoplex começaram a vender ingressos antecipados na internet pelo menos duas semanas antes de o filme entrar em cartaz. E o site oficial já ultrapassou os 200 mil acessos”, afirma Julio Uchôa, produtor executivo de Chico Xavier – O Filme. Ele acredita que o interesse pelo filme não se restringe aos seguidores da religião. A Federação Espírita Brasileira calcula que a religião tenha mais de 3 milhões de praticantes e até 30 milhões de simpatizantes – pessoas que procuram conforto em seus ensinamentos, mas não assumem o espiritismo.
“Não é um filme religioso, de maneira alguma. O próprio Daniel já se declarou ateu”, diz Uchôa. “A obra foi feita para o público universal do cinema: para quem gosta de biografias, para crianças, para quem gostou de O Sexto Sentido”, analisa. “É o filme de um grande diretor contando uma biografia, baseado em um livro”, completa, citando As Vidas de Chico Xavier, obra do jornalista Marcel Souto Maior. Lançado em 2003, o título já vendeu mais de 400 mil exemplares.
Divulgação global Para impulsionar o filme a realizar todo o seu potencial comercial, a promoção de Chico Xavier começou há mais de um ano, com a exibição de um teaser, produzido antes mesmo do início das filmagens. Como a Globo Filmes é coprodutora da película, a divulgação maciça ao longo da grade da TV Globo está garantida. Ao longo da semana, atores do filme aparecerão no Mais Você, de Ana Maria Braga, e a vida do médium será pauta do Globo Repórter e de programas no canal pago GloboNews.
A lista de estrelas globais atuando no filme de Daniel Filho é vasta. Começa com Nelson Xavier e Ângelo Antonio, que interpretam o protagonista em diferentes estágios da vida, e passa por Tony Ramos, Christiane Torloni, Giulia Gam, Letícia Sabatella, Giovanna Antonelli e Pedro Paulo Rangel, entre outros.
A temática espírita também aparecerá na programação da emissora ao longo do ano. No dia 12 de abril, vai ao ar a nova novela das seis, Escrito nas Estrelas, na qual um dos protagonistas participará da trama como um espírito. Já no segundo semestre, a série A Cura será estrelada por Selton Mello no papel de um médium que realiza cirurgias espirituais.
Páginas espíritas O meio impresso também tem aproveitado o centenário de Chico Xavier. Tanto a revista Época quanto a IstoÉ estamparam chamadas de capa com o líder espírita em edições do mês de março. Em abril, o Conselho Espírita Internacional (CEI) deve lançar as primeiras edições oficiais de livros de Chico em grego e italiano. Já existem traduções oficiais para o inglês, o francês, o espanhol, o húngaro, o alemão e o russo. Até o meio do ano, o tcheco deve ser a nona língua contemplada pelas transposições. Também há versões das obras em japonês, mandarim, sueco e romeno.
Em português, as opções são bem mais vastas: são 451 livros do autor, 39 deles publicados após sua morte; com o centenário, esse número deve crescer consideravelmente até o fim do ano. Mais de 90% da obra continua em catálogo, segundo a Associação de Editoras, Distribuidoras e Divulgadores do Livro Espírita (Adeler). Aproximadamente 20 milhões de cópias foram vendidas, se levados em conta apenas os 88 títulos cujos direitos pertencem à Federação Espírita Brasileira.
Estimativas extraoficiais apontam para 50 milhões de livros vendidos, ao todo. “O Brasil é o maior exportador do conhecimento espírita. O espiritismo veio da França, mas hoje o Brasil é quem lidera as estruturas (da religião), como o CEI”, diz Ari Dourado, presidente da Adeler.
Espiritismo protagoniza produções Pelo menos outros cinco filmes sobre a religião espírita devem estrear ao longo de 2010. Nosso Lar, de Wagner de Assis, teve o roteiro adaptado do best seller de Chico que teria sido ditado pelo espírito André Luiz – o mesmo que o médium teria psicografado em E a Vida Continua, base do filme homônimo dirigido por Paulo Figueiredo. Completam a lista As Mães de Chico, de Glauber Filho, Halder Gomes e Gerson Sanginitto; o documentário As Cartas, de Cristiana Grumbach; Área Q., de Gerson Sanginitto, e O Livro dos Espíritos, de André Marouco.
Mas a grande aposta para um blockbuster espírita é mesmo o filme de Daniel Filho. O diretor topou o convite do produtor Bruno Wainer logo na primeira conversa. “Daniel tem uma grande sensibilidade para os temas que podem agradar ao público. É um diretor intimamente ligado ao sucesso”, afirma Wainer, que comprou os direitos de filmar o livro de Souto Maior há seis anos. “Espero que a intuição dele se confirme, como a minha.”
A superprodução Chico Xavier estreia em 2 de abril, dia em que o líder espírita faria 100 anos
Diretor e atores contam suas experiências durante as gravações
Paulínia (SP) — “Não podia fazer esse filme sem entrar na cabeça do Chico Xavier. Foi o que fiz, da maneira mais explícita possível, ficando até envergonhado. Tem uma cena, que estou dentro da cabeça dele, entrando pelo ouvido, para ver o que ele via e revelar o que sentia. Não queria fazer fantasminha, com personagens iluminados por uma luz divina”. As palavras do diretor Daniel Filho dão contorno ao ateu — “sem ter isso como um conceito radical” — à frente do filme Chico Xavier, com lançamento coincidente em 2 de abril, que marca o centenário do líder espírita (morto em 2002).
Cenas do longa que conta a história de Chico Xavier: atores, como Tony Ramos, se comoveram durante as filmagens
Com relevo ecumênico, o filme não se concentra em tópicos religiosos expressos. Parceiro no filme, Rodrigo Saturnino (da coprodutora Sony Pictures) conta que, mesmo com a preocupação dos amigos espíritas de o longa se ater à mensagem de Chico, há um grupo de católicos interessados no longa. “Tentei, mas não consegui lembrar de outro filme que tivesse três pais-nossos e um credo. Nem no (filme) Maria, mãe do filho de Deus ou no Irmãos de fé aconteceu”, relembra Saturnino. Enquanto o roteirista Marcos Bernstein (de Central do Brasil) associa o médium à figura de Gandhi, “apesar das trajetórias diferentes”, Marcel Souto Maior, autor de As vidas de Chico Xavier (a base para o filme), sintetiza as qualidades do protagonista — “Ele viveu pelos sentidos, raros e poderosos, de missão, de doação integral e de aceitação imensas”.
Mesmo depois de seis anos, quando recebeu o best-seller com uma dedicatória e o pedido que abraçasse o protagonista nas telas, Nelson Xavier ainda reflete o aprofundado contato com o personagem. “Fiquei deslumbrado com aquele ser que eu tinha ignorado durante toda a vida. E fiquei com muita vontade de fazer o papel, uma coisa que nunca tinha acontecido na minha carreira. As emoções que eu senti, ao abrir o livro, se ampliaram e se aprofundaram durante o tempo de busca da personagem. Parece que uma cachoeira de emoção foi me tomando, durante todo o trabalho. É algo que ultrapassa o campo profissional”, explica.
Longe de esfera racional, o escritor Marcel Souto Maior viu o “fenômeno das lágrimas inexplicáveis”, numa expressão dele, repetido com o diretor Daniel Filho, 14 anos depois da primeira viagem para Uberaba (MG), quando buscou subsídios para o livro. “Era um repórter cético com uma história forte para ser contada, de modo jornalístico. Chegando lá, descobri que havia seis meses que Chico não ia ao centro espírita, debilitado por doenças. Na Casa da Prece, quando ele apareceu, eu pensava em questões práticas, de como me apresentar e de como conseguir autorização para o livro. Sem nenhuma emoção em especial, senti gotas, e gotas, caindo na camisa. Demorei a acreditar que eram lágrimas que jorravam dos meus olhos, sem eu ter soluços ou consciência”, relembra.
Com mais de 25 anos de “autonomia de voo” profissional — ou seja, com o poder de selecionar as obras das quais participa —, Daniel Filho conta que foi escolhido (sem denotação religiosa) para conduzir a fita, orçada em R$ 12 milhões e que chegará às telas em 350 cópias. Reticente, a princípio, o diretor foi encorajado pela longa amizade com Augusto César Vanucci (morto em 1992), que liderou a campanha para a indicação de Chico Xavier para o Prêmio Nobel da Paz, em 1980. Se a perspectiva é de um excelente retorno nas bilheterias, o coprodutor Rodrigo Saturnino prefere a cautela. “Estimativas a gente faz depois que o filme está em cartaz. É que, se você espera 5 milhões e alcança 2,5 milhões de público, tem um enorme sucesso nas mãos e um gosto de fracasso na boca”, observa.
Sem nenhum condicionamento anterior à realização, a Casa da Prece — um ponto de conforto para quem procurou Chico Xavier, em Uberaba, especialmente nos atendimentos concentrados aos sábados — receberá 10% dos lucros alcançados pelo filme. “Acho que os assuntos (glamour do cinema e a caridade de Chico) não devem ser misturados: isto aqui é indústria, isso é cinema que conta com muito investimento. Devo reconhecer, porém, o gesto de extrema generosidade de Daniel, como produtor, de ceder um percentual dessa ordem para uma instituição que vai continuar fazendo suas ações sociais”, avalia o diretor Bruno Wainer, da distribuidora Downtown Filmes.
» Íntegra da entrevista com Nelson Xavier
Como foi o processo de preparação do personagem?Desde que eu li o livro, eu fui tomado por uma comoção com a vida dele, que não me abandonou. Isso foi há seis anos. Quando o Daniel Filho me ligou dizendo que eu ia fazê-lo, eu chorei. Fiquei chorando. Não sei explicar: é uma emoção que trava, que paralisa. Uma espécie de posse que ele teve de mim, uma espécie de tomada, de invasão. De modo a me emocionar profundamente, para além da busca do personagem, além da construção dele. Isso, além dos ensaios, que foram bastante longos.
Quais foram os combustíveis para esta imersão?
Essa emoção era tão profunda, tão misturada ao prazer de ser feliz. Porque o Chico era uma pessoa profundamente alegre. Se você prestar atenção, você vê que a alegria é uma coisa presente em todos os líderes espirituais. Todos os gurus indianos são alegres. A alegria está intimamente ligada à santidade. Porque projeta a plenitude. O Chico tinha muito bom humor. Vivia contando piada. Eu falo da emoção que é alegre, apesar do choro. Apesar do choro constante, presente, que é uma emoção tão grande que eu choro. Tenho a Lua em áries, então a emoção me leva às lágrimas com facilidade. Eu choro de felicidade.
Qual é a maior possibilidade artística dentro de uma cinebiografia?
Eu não tentei imitá-lo. Eu tentei interpretá-lo. Igualar é difícil, nem adianta entrar nessa. Mas, essa emoção. Mas, essa emoção que eu tô dizendo que me acompanhou, ela mesma foi aproximando, ela mesma foi me empurrando para uma coisa mais próxima dele. E ela também foi levando de roldão, como que assumindo a autenticidade da interpretação. É como se ela me bastasse como identidade do Chico. Então eu fiz o mais possível que eu pude parecer com ele. Mas não fiquei doentio com isso. Foi uma busca e entrega, ao mesmo tempo.
Houve alguma alteração em relação ao antes e ao depois do filme? O senhor sempre foi sereno?
Tranquilo? O que é a aparência… (brinca). Talvez a situação e ele tenham me mudado também isso. Porque eu acho que ele me mudou… mudou sim… No sentido de ter me lembrado de que o amor precisa ser exercido mais cotidianamente, que a vida espiritual tem que estar mais presente na minha vida, que o bem,o amor, a compaixão, a tolerância, a paciência, têm que prevalecer. Nesse sentido eu acho que eu mudei. Mas não me posso considerar um espírita porque eu sempre acreditei nesses fenômenos, mas simplesmente não dava atenção a isso. Quer dizer, eu não passei a acreditar ou reconhecer como verdadeira essa doutrina agora. Desde criança, eu a conheço, a minha mãe era espírita. Então, não há novidade. A única novidade nesse terreno e é uma diferença bem grande é que eu achava que depois do desenlace a, gente perdia a identidade e se fundia numa totalidade, num campo unificado, do qual os iogas falam. Ele me convenceu de que a gente continua com a identidade depois da morte.A gente continua a ser o “Nelson”, depois.
Qual o grande mérito de Chico Xavier?
Ele foi uma pessoa que não pregou o amor. Ele encarnou o amor. Encarnou a entrega. Era feliz, quando sofria por alguma coisa, porque ele sabia que, sofrendo, ele ia crescer como ser humano. Ser santo. A mãe ensina-o a aceitar a adversidade e, ao aceitar a adversidade, é que ele se torna a pessoa especial que foi.Lamber a ferida… A mãe quase que pede que ele agradeça isso acontecer, para ele poder crescer. Então, essa lição, atravessando esse percurso que a gente fez para fazer o filme. Tomar contato com um ser que prega isso… Você não sai incólume a isso. Você não sai o mesmo. É muito forte. Você saber que uma pessoa dedicou a vida a isso, acreditando nisso, é muito difícil você continuar sua vida como se nada tivesse acontecido. Ele me mudou: me tornei mais tolerante, mais paciente, lembro mais de que o amor existe e precisa ser exercido.
Diretor de ‘Chico Xavier’ diz que houve experiência sobrenatural no set
Segundo Daniel Filho, figurante foi retirada por suposta possessão. Cinebiografia estreia em 2 de abril, quando médium faria 100 anos.
Dolores OroscoDo G1, em Paulínia – a jornalista viajou a convite da Globo Filmes
As atrizes Giulia Gam e Carla Daniel ao lado do jornalista Marcel Souto Maior, autor de biografia de Chico Xavier, durante entrevista em Paulínia. (Foto: Dolores Orosco/G1)
O diretor Daniel Filho e parte do elenco da cinebiografia “Chico Xavier” se emocionaram e até relataram supostas experiências sobrenaturais nos bastidores das filmagens, durante entrevista coletiva realizada nesta quarta-feira (24), em Paulínia, no interior paulista. O filme teve première na noite de terça (22) na cidade, onde foram realizadas 40% das cenas.
O longa que conta a história do médium mineiro, da infância à maturidade, estreia em circuito em 2 de abril, com a expectativa de se tornar um dos campeões de bilheteria do ano no país. Além de tratar de assunto de grande apelo popular, o espiritismo, o lançamento acontece na data em que Chico Xavier (1910-2002) faria 100 anos.
O ator Nelson Xavier, que interpreta o médium entre os anos de 1969 e 1975, ficou com a voz embargada ao descrever o personagem. “Chico foi uma revolução em minha vida. A mensagem dele é que a gente tem que acreditar mais no amor”, explicou. “Eu vivia num ateísmo profundo antes de mergulhar no universo dele. Ao ler o livro fui tomado por uma cachoeira de emoções e lamentei ter vivido tanto tempo sem o Chico”.
O livro a que o ator se refere é “As vidas de Chico Xavier”, do jornalista Marcel Souto Maior, no qual o roteiro é baseado. “Infelizmente, não vou desfrutar da vaidade de autor, de vir alguém me dizer que achou o livro muito melhor que o filme”, comentou Souto Maior.
“Quando sonhava em ver meu livro transformado em filme, imaginava que dez passagens não poderiam ficar de fora. E ao ler o roteiro constatei que estavam todas lá”, completou o autor.
O diretor Daniel Filho, durante entrevista coletiva de ‘Chico Xavier’ em Paulínia (Foto: Dolores Orosco/G1)
Quem assina a adaptação é Marcos Bernstein (de “Central do Brasil” e “Terra estrangeira”). “Decidimos que a infância não poderia ficar de fora, por talvez ser a parte mais dramática da vida do Chico. E muito menos a velhice, quando ele passa a usar peruca. Acho que essa é a imagem mais fresca que as pessoas têm dele”, diz o roteirista.
O filme é conduzido pela participação de Chico Xavier, já idoso, no programa de entrevistas “Pinga fogo”, que tenta por todos os artifícios fazer o médium cair em contradição.
Ao longo de perguntas provocativas de jornalistas, o médium relembra passagens importantes de sua vida – da juventude em Pedro Leopoldo à consagração em Uberaba, onde viveu até os últimos dias.
Trama paralela é protagonizada por Orlando (Tony Ramos) e Glória (Christiane Torloni), pais que perderam o filho em uma tragédia e recebem uma carta psicografada das mãos de Chico Xavier. “Esse casal é o ponto direto de identificação com o espectador, é o que representou o Chico para todos nós: a possibilidade de ter de volta um filho, um parente querido que perdemos”, analisou Bernstein.
Além de Nelson, interpretam o médium na fase adulta e na infância os atores Ângelo Antônio e Matheus Costa. Completam o elenco Letícia Sabatella, Paulo Goulart, Giulia Gam, Pedro Paulo Rangel, Cássia Kiss, Luís Melo, Carla Daniel e Giovanna Antonelli.
Possessão Em uma das cenas conduzidas por Antônio na Casa da Prece, fundada por Xavier em Uberaba, Daniel Filho disse ter presenciado uma possessão. “Parece que uma senhora, figurante, encarnou algum espírito. Ela teve que ser tirada às pressas da sala”, relembra.
Duas gerações de ‘Chicos: o ator-mirim Matheus Costa e Nelson Xavier. (Foto: Dolores Orosco/G1)
A fé e a religiosidade foram um traço marcante das filmagens. Segundo o diretor era comum que figurantes chorassem muito nas cenas. “Principalmente em Uberaba, onde muitas pessoas estiveram com o Chico, havia muita comoção”.
Mas apesar desse tipo de relato, Filho faz questão de enfatizar que “Chico Xavier” não foi feito com a intenção de ser um filme religioso, sobre a doutrina espírita. “É a história de um brasileiro excepcional, que escreveu 412 livros e vendeu mais de 30 milhões no mundo todo”.
Bruno Wainer, um dos produtores do filme, acredita que católicos, evangélicos e seguidores de outras religiões não devem descartara a ida ao cinema. “O filme não levanta a bandeira do espiritismo. Ele é mais voltado para os valores que o Chico pregou, que são a paz e o amor. Quem é contra isso?”, questiona.
CENTENÁRIO DE CHICO XAVIER É DESTAQUE NO BRASIL E NO MUNDO.
Espíritas de todo país e de várias partes do mundo comemoram uma data especial no próximo 2 de abril de 2010, Sexta-Feira da Paixão. Se estivesse vivo, o médium Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, completaria 100 anos.
Mineiro de Pedro Leopoldo, Chico Xavier iniciou-se na prática mediúnica aos 17 anos, em 1927. Em pouco tempo, seu dom de conversar com os espíritos deixou-o conhecido como uma das principais referências da religião em todo país.
Mesmo tendo concluído apenas o ensino primário, Chico Xavier lançou mais de 400 livros, psicografados por vários espíritos, em especial Emmanuel e André Luiz. Além disso, até nos últimos dias de vida, atendia quem precisasse de consolo espiritual, principalmente mães que haviam perdido os filhos.
Para relembrar esse grande mineiro, o Portal Uai lança nesta segunda-feira um hot-site especial sobre o médium. Aqui você poderá ver fotos históricas de Chico Xavier, conhecer um pouco mais sobre sua vida e obra, além de áudios e vídeos.
Dentre os destaques, confira uma reportagem exclusiva da TV Alterosa, que é a última sessão registrada em vídeo de Chico Xavier. Poucas semanas após o jornal, o médium faleceu.
Você assistirá em breve um SBT Repórter especial sobre Chico Xavier e poderá confirir entrevistas com pessoas que conviveram com o espírita. Artistas, como a atriz Nair Belo, também foram auxiliados e contam do seu encontro com Chico.
A influência da vida de Chico Xavier também chegou ao mundo das artes e vários filmes e peças de teatro vão homenagear o médium. Confira nossa cobertura sobre o longa “Chico Xavier, o filme”, de Daniel Filho, que estreia no próximo dia 2 de abril. Assista ao trailer e veja mais detalhes dessa super produção. Humildade e sabedoria
Apesar de toda fama, Chico Xavier era exemplo de humildade. Todo o dinheiro da venda dos livros era aplicado em obras assistenciais, primeiro em Pedro Leopoldo, depois em Uberaba, onde passou a viver no final da década de 50.
Além disso, Chico Xavier deixou um legado de sabedoria e caridade. Suas mensagens e palavras continuam, mesmo após sua morte, a orientar e alentar o coração de milhares de pessoas.
O médium morreu dia 30 de junho de 2002, em Uberaba, aos 92 anos, vítima de um ataque cardíaco. Como numa profecia, Chico havia falado que queria morrer num dia de alegria para os brasileiros. E acertou: naquele dia a seleção foi pentacampeã da Copa do Mundo.
Existe uma profusão de estudos sobre a fé. Assim como há insistentes tentativas de negá-la, amaldiçoá-la ou reduzi-la a uma modesta participação na nossa existência. Mas a verdade é que, independentemente de onde venha, seja de uma religião, de uma experiência sobrenatural ou da crença em algo maior, o fato é que essa palavrinha miúda tem um poder sem precedentes — até o de curar. Quando vem atrelada a um nome forte, confiável e que emana bons sentimentos, a fé parece transbordar. É o que se tem visto antes mesmo da estréia do filme Chico Xavier, que entra em cartaz no próximo dia 2 e promete se transformar em um fenômeno das telas.
A história de Chico Xavier, que será lançada no cinema no dia em que ele faria 100 anos, já emocionou os produtores, diretores e elenco, que deram depoimentos tocantes a respeito de como a biografia do médium mexeu com a vida deles, a ponto de não conterem as lágrimas em vários momentos das filmagens. Pudera. A figura do homem franzino que passou a vida a semear o bem está acima de religiões e dúvidas. Da mesma forma como esteve o médico dos pobres Bezerra de Menezes, um cearense que adotou o espiritismo e também deixou um legado à prova de qualquer julgamento. Sua vida e obra chegaram ao cinema em 2008, numa bonita mensagem que apaziguou tristezas e fortaleceu gente de tudo quanto é lugar.
Pessoas como Bezerra de Menezes e Chico Xavier não se tornaram figuras acima de qualquer suspeita porque tinham poderes especiais, marketing pessoal ou coisa que o valha. Mas porque foram homens coerentes com um propósito: o de servir. Chico vendeu milhares de livros sem nunca ter ficado com um tostão para uso pessoal. Bezerra de Menezes entrou para a política e nunca teve um vestígio que manchasse sua reputação. São lembrados, adorados, venerados. Falar sobre pessoas assim, independentemente se é dentro de um projeto de entretenimento, como o cinema, é uma forma de eternizar qualidades raras, como a coerência.
Se cada um de nós elegesse um propósito de vida e o seguisse até o fim, certamente deixaríamos uma bela biografia, como fez, por exemplo, dona Zilda Arns, a eterna pastora da infância. Como o fez, também, doutor Ernesto Silva, que semeou nossos campos até bem pouco tempo e colhe o respeito de Brasília ainda hoje. São pessoas que se alegraram em vida partilhando com o próximo. Só a lembrança deles já emana bons sentimentos, inclusive a fé nas pessoas.
Fonte: Correio Braziliense, domingo, 28 de março de 2010