Espiritismo ganha repercussão com livros e filme sobre Chico Xavier
Espíritas analisam a grande difusão que a doutriina espírita está tendo no ano do centenário de nascimento do ícone da doutrina espírita no Brasil.
“Deus nos concede, a cada dia, uma página de vida nova no livro do tempo. Aquilo que colocarmos nela, corre por nossa conta.” Ao longo dos seus 92 anos de vida, o ícone da doutrina espírita no Brasil, Chico Xavier, parece ter colocado em prática direitinho essa mensagem citada por ele. No ano do seu centenário de nascimento, e oito anos depois de sua morte, a impressão que se tem é que hoje a sua existência está sendo repassada – página por página – não apenas por seguidores da doutrina que ajudou a propagar no Brasil, mas por leigos, curiosos e até mesmo incrédulos. A impressão seguinte é que as pessoas estão gostando do que estão lendo e assistindo.
Desde o dia 2 de abril, quando estreou o filme “Chico Xavier” (baseado no best-seller de Marcel Souto Maior, “As Vidas de Chico Xavier”) e data em que o médium completaria 100 anos, as sessões dos cinemas pelo Brasil afora têm registrado recorde de público. Segundo o site oficial do filme, somente no primeiro final de semana, cerca de 590 mil brasileiros assistiram à cinebiografia e mais de 1,3 milhão de pessoas a viram em 10 dias de exibição, conforme divulgou a distribuidora Downtown. O filme já está sendo considerado a maior bilheteria do cinema nacional.
A difusão do espiritismo ganhou um grande impulso nos últimos anos. Alguns livros sobre o tema destacam-se no ranking dos mais lidos. Este ano, além do filme que está em cartaz em 300 salas de cinema em todo o país, em breve deverá ser lançado “Nosso Lar”, baseado no livro mais vendido de Chico sobre a vida após a morte. Outros filmes estão previstos para estrear ainda este ano: “As cartas” – documentário da diretora Cristiana Grumbach sobre as cartas de parentes mortos psicografadas pelo médium -; “As mães de Chico”, e um dos clássicos da doutrina “E a vida continua”, baseado no romance ditado pelo espírito André Luiz a Chico Xavier, sobre amor e vingança no plano espiritual.
Mas, a que se deve tanta repercussão em torno do tema? Para o espírita Aníbal Ribeiro Dantas, que pratica a doutrina há cerca de 40 anos, a sociedade está aberta para receber essas informações. “Este momento está sendo muito importante para o crescimento do espiritismo no Brasil. Trata-se de uma doutrina que oferece respostas a muitas questões sobre a vida e a morte. É uma doutrina silenciosa. A sua divulgação se dá através dos seus próprios frequentadores”, destacou Aníbal, lembrando que a principal característica do espiritismo difundido por Alan Kardec é propagar a mensagem do Cristo.
A doutrina começou a ser codificada por Alan Kardec em 1857, com a publicação do Livro dos Espíritos. O livro foi um marco e deu origem a outras obras – O que é o Espiritismo (1859), O Livro dos Médiuns (1861), O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864), O Céu e o Inferno (1865), A Gênese (1868) e Obras Póstumas (1890).
Na opinião de Aníbal, a internet impulsionou as pesquisas nesta área e possibilitou essa difusão que vemos hoje. “O filme sobre a vida de Chico Xavier veio em um momento importante. Além disso, Natal é uma cidade propícia aos ensinamentos da doutrina”, alega, ao dizer que no centro espírita que dirige – Centro Espírita Esperança e Caridade
Eurípedes Barsanulfo, no bairro de Mirassol – as reuniões realizadas às segundas e quartas-feiras costumam receber mais de 100 pessoas por noite – “uma demonstração da procura crescente pelos ensinamentos espíritas”.
As reuniões começam com a leitura de um trecho de “O Livro dos Espíritos” ou “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, seguida de uma oração, uma palestra, a oração final e a aplicação de passes. Depois desse impulso que a divulgação do Espiritismo ganhou com a publicação de vários livros e a exibição dos filmes sobre o tema, Aníbal torce para que a doutrina continue avançando. “Com mais e mais pessoas frequentando os centros espíritas e trabalhando em benefício daqueles que precisam de ajuda espiritual”.
O coordenador de grupos de estudo da doutrina Espírita, Omar Bonazza, completa o raciocínio de Aníbal e fala com entusiasmo da obra de Alan Kardec, que ganhou grande repercussão no Brasil com o trabalho realizado por Chico Xavier.
Segundo conta, o Espiritismo surgiu simultaneamente em todo o mundo e o seu crescimento se dá pelo fato de suprir o que as pessoas necessitam. “Hoje, as pessoas precisam mais do que nunca de explicações sobre fatores que sempre inquietaram a humanidade, como a vida após a morte, as provas que cada pessoa carrega na sua existência e o sentido das relações – muitas vezes conflituosas – entre as pessoas”.
A empresária Janaína Moreira, frequentadora da doutrina, assistiu ao filme Chico Xavier e o resume numa única palavra: resignação. “Acho que o filme mostra o quão resignado ele era. O pouco que ele teve foi suficiente para fazer tanto por muita gente”, opina, lembrando que, independente da questão religiosa, mesmo quem não tem conhecimento sobre o assunto, ao assistir fica com vontade de conhecer a doutrina.
Curiosidades
O livro que conta os bastidores e emoções do longa-metragem de Daniel Filho está em primeiro lugar na lista dos mais vendidos nas últimas semanas. Marcel Souto Maior também vem ocupando posições de destaque no ranking dos livros mais vendidos, com “As Vidas de Chico Xavier”, a biografia do médium que deu origem ao filme.
O filme Chico Xavier reuniu três ateus – Marcel Souto Maior (autor do livro), Daniel Filho (diretor) e Nélson Xavier (ator). Os três principais envolvidos na cinebiografia jamais professaram religião alguma. No site oficial do filme, o autor do livro “As Vidas de Chico Xavier”, Marcel Souto Maior, teria declarado que talvez por isso o filme tenha ficado como ficou: “uma reconstituição dos altos e baixos da trajetória de Chico Xavier que é contada sem a intenção de converter ou de explicar a doutrina”.
Dirigido por Daniel Filho, “Chico Xavier” bateu “Se Eu Fosse Você 2” (2009), visto por cerca de 570 mil espectadores em seus três primeiros dias em cartaz. “Lula, o Filho do Brasil” (2010) fez 220 mil no fim de semana de estreia, e “Avatar” (2009) registrou mais de 800 mil.
Os produtores de “Chico Xavier” repetem, feito mantra, que não fizeram um filme espírita. O diretor Daniel Filho afirma ter tomado cuidado para que o filme não fosse doutrinário e sim uma cinebiografia de uma das personalidades mais conhecidas e queridas dos brasileiros, para ser visto por todos que gostam de uma belíssima história de vida. Daniel Filho diz, inclusive, que buscou colocar no roteiro todas as perguntas que ele próprio, não espírita, faz a si.
(fonte: www.chicoxavierofilme.com.br)