Chico Xavier e a caridade
Allan Kardec, em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XV, Fora da caridade não há salvação, nos esclarece que:
“Toda a moral de Jesus se resume na caridade e na humildade, isto é, nas duas virtudes contrárias ao egoísmo e ao orgulho. Em todos os seus ensinos, ele aponta essas duas virtudes como sendo as que conduzem à eterna felicidade.”
O Médium Chico Xavier, nos relata como iniciou suas lides no campo assistencial, cuja narração está registrada no livro Chico Xavier – Mandato de Amor, União Espírita Mineira, a saber:
“Tudo seguia em ordem, quando na noite de 10 de julho referido, dois dias depois de haver recebido a primeira mensagem, quando eu fazia as orações da noite, vi o meu quarto pobre se iluminar, de repente. As paredes refletiam a luz de um prateado lilás. Eu estava de joelhos, conforme os meus hábitos católicos, e descerrei os olhos, tentando ver o que se passava. Vi, então, perto de mim uma senhora de admirável presença, que irradiava a luz que se espraiava pelo quarto. Tentei levantar-me para demonstrar-lhes respeito e cortesia, mas não consegui permanecer de pé e dobrei, involuntariamente, os joelhos diante dela.
A dama iluminada fitou a imagem de Nossa Senhora do Pilar que eu mantinha em meu quarto e, em seguida, falou em castelhano que eu compreendi, embora sabendo que eu ignorava o idioma, em que ela facilmente se expressava:
– Francisco – disse-me pausadamente – em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, venho solicitar o seu auxílio em favor dos pobres, nossos irmãos.
– A emoção me possuía a alma toda, mas pude perguntar-lhe, embora as lágrimas que me cobriam o rosto:
– Senhora, quem sois vós?
Ela me respondeu:
– Você não se lembra agora de mim, no entanto eu sou Isabel de Aragão.
Eu não conhecia senhora alguma que tivesse este nome e estranhei o que ela dizia, entretanto uma força interior me continha e calei qualquer comentário, em torno de minha ignorância. Mas o diálago estava iniciado e indaguei:
– Senhora, sou pobre e nada tenho par dar.
– Que auxílio poderei prestar aos mais pobres do que eu mesmo?
Ela disse:
– Você me auxiliará a repartir pães com os necessitados.
Clamei com pesar:
– Senhora, quase sempre não tenho pão para mim.
– Como poderei repartir pães com os outros?…
A dama sorriu e me esclareceu:
– “Chegará o tempo em que você disporá de recursos. Você vai escrever para as nossas gentes peninsulares e, trabalhando por Jesus, não poderá receber vantagem material alguma pelas páginas que você produzir, mas vamos providenciar para que os Mensageiros do Bem lhe tragam recursos para iniciar a tarefa. Confiemos na Bondade do Senhor”.
Em seguida a estas palavras, que anotei em 1927, a dama se afastou deixando o meu quarto em pleno escuro. Chorei sob a emoção para mim inexplicável até o amanhecer do dia imediato…
Duas semanas após a ocorrência, estando eu nas preces da noite, apareceu-me um senhor vestido em roupa branca que, por intuição, notei tratar-se de um sacerdote. Saudei-o com muito respeito e ele me respondeu com bondade, explicando-se:
-“Irmão Francisco, fui, no século XIV, um dos confessores da Rainha Santa, D. Izabel de Aragão, que se fez esposa do Rei de Portugal, D. Dinis. Ela desenvolveu elevadas iniciativas de beneficência e instrução nos dois ramos que formam a Península, conhecida na Europa, e voltou ao Mundo Espiritual em 4 de julho de 1336. Desde então ela protege todas as obras de caridade e de educação na Espanha e Portugal. Foi ela que o visitou, há alguns dias nas preces da noite e prometeu-lhe assistência. Ela me recomenda dizer-lhe que não faltarão recursos para distribuição de pão aos necessitados. Meu nome em 1336 era Fernão Mendes. Confiemos em Jesus e trabalhemos na sementeira do bem.
No primeiro sábado que se seguiu às ocorrências que descrevo, fui com minha irmã Luíza (atualmente desencarnada) até uma ponte muito pobre, até hoje existente e reformada, na cidade de Pedro Leopoldo, Minas, onde nasci, conduzindo um pequeno cesto com oito pães. Ali estavam refugiados alguns indigentes: parti os pães, a fim de que cada um tivesse um pedaço, e assim foi iniciado o nosso serviço de distribuição de pães, de 1927 a 1958. Em janeiro de 1959, mudei-me para esta cidade de Uberaba, aqui chegando no dia 5 de janeiro de 1959. Junto a grupo de amigos que já nos esperava, promovemos a distribuição de pães numa vila da periferia uberabense. Essa distribuição semanal, aos sábados, permanece ativa até hoje. Moramos numa casa vizinha de três núcleos de favelados e a nossa distribuição de pães, atualmente, se eleva ao número de 1500, divididos entre os necessitados das três favelas a que me referi.”
Chico Xavier soube exemplificar, durante toda a sua vida, essa moral de Jesus, praticando a caridade e a humildade, nos ensinando a amar o próximo.
“A caridade é, em todos os mundos, a eterna âncora de salvação; é a mais pura emanação do próprio Criador; é a sua própria virtude, dada por ele à criatura. Como desprezar essa bondade suprema? Qual o coração, disso ciente, bastante perverso para recalcar em si e expulsar esse sentimento todo divino? Qual o filho bastante mau para se rebelar contra essa doce carícia: a caridade?” (Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XIII).