ALCOOLISMO NA FAMÍLIA E SUAS CONSEQUÊNCIAS NA VIDA DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES

ALCOOLISMO NA FAMÍLIA E SUAS CONSEQUÊNCIAS NA VIDA DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES

O álcool é a droga mais consumida no mundo. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que aproximadamente dois bilhões de pessoas consomem bebidas alcoólicas. O uso de bebidas alcoólicas é um dos principais fatores que contribuem para as precárias condições de saúde mundial e responde por 3,2% da mortalidade e 4% dos anos perdidos de vida útil.

Nos países da América Latina, estima-se que 16% dos anos de vida útil perdidos estão relacionados ao consumo de álcool. Estudo epidemiológico recente no Brasil, que avaliou os padrões de consumo de bebidas alcoólicas, encontrou valores considerados quatro vezes maiores do que a média mundial.

No referido levantamento, o consumo de bebidas alcoólicas no Brasil foi apontado como um importante problema de saúde pública, particularmente entre os jovens. O uso do álcool na população jovem tem iniciado cada vez mais cedo.

Levantamentos nacionais sobre o consumo de álcool na população em geral, e entre os universitários, têm mapeado um número crescente de mulheres que fazem uso de álcool ou que vêm mudando seu padrão de consumo, tendendo a equiparar-se ao consumo masculino.

Dr.ª Andréa Cristina Fonseca Fernandes, vice-presidente do Centro Espírita Irmão Áureo, Catalão (GO), médica psiquiatra, especializada no tratamento médico ao alcoolista, é nossa entrevistada do Jornal Espírita Auta de Souza (JAS), para esclarecer sobre o consumo do álcool na família, com foco na criança e no jovem.

JAS: Dra. Andréa, existe alguma pesquisa científica que demonstra as consequências da influência que os pais, que fazem uso de bebida alcóolica, exercem sobre os filhos?

Dra. Andréa: Sim, diversos estudos demonstram que o alcoolismo parental é associado à variedade de resultados negativos para crianças e adolescentes e que as influências parentais são relevantes para desenvolvimento do abuso e dependência do álcool em seus descendentes. Filhos de pais alcoolistas apresentam de quatro a seis vezes maior possibilidade de ter problemas com álcool; frequentemente apresentam problemas no desempenho acadêmico, convivem e são vítimas de violência doméstica. Uma em quatro crianças ou adolescentes menores de dezoito anos está exposta ao abuso do álcool no ambiente familiar.

JAS: A ingestão de bebidas alcoólicas é uma forma de se divertir e se socializar?

Dra. Andréa: É uma ideia equivocada de que a bebida alcoólica está associada a socialização, ambientes festivos e comemorativos. O álcool presente em contextos de comemorações e festas familiares pode se configurar em padrão disfuncional da família, além da possibilidade aumentada do uso da droga estar associado, em parte, a um processo, equivocado, que valoriza o uso de bebida alcoólica.

JAS: Quais são as consequências do consumo de bebidas alcoólicas para as crianças e jovens?

Dra. Andréa: Em geral, o alcoolismo parental é associado à variedade de resultados negativos para as crianças e os adolescentes. Os resultados de alguns estudos demonstram que filhos de alcoolistas exibem elevadas taxas de psicopatologias, sendo que esses são aproximadamente quatro a seis vezes mais prováveis, do que a população geral, de desenvolver problemas com abuso de álcool. Além disso, ansiedade, depressão e desordem de comportamento externalizados e internalizados são mais comuns em filhos de alcoolistas do que em filhos de não-alcoolistas.

JAS: Crianças e jovens expostos às bebidas alcoólicas têm mais risco de doenças e dificuldades na escola?

Dra. Andréa: Focalizando as psicopatologias, realizações acadêmicas e o risco para desenvolver alcoolismo, em filhos de alcoolistas e filhos de não-alcoolistas, com idade de 8 a 18 anos, conclui-se que crianças que tinham alcoolismo multigeracional em suas famílias apresentavam maior risco para o desenvolvimento de psicopatologias. O que esses estudos sugerem é que parece haver interligação entre o alcoolismo parental, maiores índices de problemas de comportamento, desordens afetivas e baixo rendimento escolar. Essas observações podem ser consideradas indicadores para o diagnóstico de desenvolvimento de psicopatologias, inclusive o alcoolismo.

JAS: O que o álcool gera de consequências, no âmbito físico e psicológico, numa criança ou jovem que se utiliza dessa droga?

Dra. Andréa: O álcool, no corpo físico é responsável por inúmeras doenças físicas e mentais, está envolvido na gênese de vários tipos de tumores, na maior probabilidade de doenças cardiovasculares, metabólicas, glandulares, hepáticas, e todos os demais sistemas. Para a criança e o jovem, que possuem o Sistema Nervoso Central em desenvolvimento, os danos cerebrais são especialmente graves, provocando distúrbios de comportamento, dificuldade em controle de impulsos, com maior possibilidade de envolvimento em acidentes de trânsito, situações de violência e criminalidade, gravidez na adolescência, doenças sexualmente transmissíveis, entre outros.

JAS: Quais as consequências espirituais para o jovem que faz uso da bebida alcoólica?

Dra. Andréa: Espiritualmente, o jovem é responsável por todos os seus atos praticados sob efeito do álcool e as consequências daí decorrentes. Na literatura espírita temos diversos exemplos de encarnações planejadas detalhadamente para o desenvolvimento de tarefas elevadas no campo da mediunidade, para reparações salutares que são abortadas devido ao comportamento decorrente do uso e dependência do álcool.

JAS: O que recomendar aos pais que não conseguem mais mudar o envolvimento de seus filhos que fazem uso frequente do álcool em suas vidas?

Dra. Andréa: Os pais devem aplicar todo o esforço, amor e energia para conduzir os filhos para o caminho do bem. Porém, os filhos, fazendo uso do livre arbítrio que possuem, podem escolher viver caminhos diferentes do que lhes foi ensinado e exemplificado. Os pais devem compreender que o progresso é uma lei a que todos estamos submetidos, e que na pedagogia divina, Deus tem métodos para nos ensinar a encontrar o caminho para a perfeição. Se o nosso familiar ou filho estiver no caminho do equívoco, do erro, do crime, ele vai encontrar o caminho da verdade e da vida, hoje ou amanhã, pois que todos somos de Deus e viver com Ele é o futuro que nos aguarda. Os pais precisam compreender que o sofrimento é o remédio amargo que cura as feridas da alma e corrige os desvios de rota do filho ou familiar rebelde e insensato, mas não menos amado e protegido por Deus, que cuida de todas as suas criaturas.

JAS: Qual a maior defesa que pais e familiares podem ter no combate ao uso do álcool?

Dra. Andréa: Emmanuel, no livro O Consolador, pergunta 189, ensina que: “A mãe terrestre deve compreender antes de tudo, que seus filhos, primeiramente, são filhos de Deus.

Desde a infância, deve prepará-los para o trabalho e para a luta que os esperam.

Desde os primeiros anos, deve ensinar a criança a fugir do abismo da liberdade, controlando-lhe as atitudes e concentrando-lhe as posições mentais, pois que essa é a ocasião mais propícia à edificação das bases de uma vida.”

Portanto, os pais têm a missão primeira de conduzir os filhos a Deus, amando-os, protegendo-os e corrigindo as suas más tendências, com amor e energia. A criança e o jovem devem receber, desde sempre, por meio de exemplos e vivências em família, o amor e o respeito a si mesmas, ao outro e à natureza.

JAS: Quais são os antídotos que a família possui para evitar que o mal do alcoolismo penetre no lar?

Dra. Andréa: A prece e a leitura do Evangelho de Jesus, em ambiente amoroso e alegre, transmitindo aos filhos, a gratidão e o amor à Deus, a confiança e a fé na Sua bondade e justiça, as noções de conduta e convivência em sociedade, desenvolvendo o gosto pelo trabalho, pelas artes, pelo belo; enfim, sendo uma pessoa de bem. A maior defesa que a família possui, no combate aos vícios em geral, está na segurança e na presença amorosa dos pais que, vigilantes, vivenciam o verdadeiro amor que educa para vida neste orbe de provas e expiações, adquirindo a robustez espiritual para se conduzir em todas as situações, com lucidez e discernimento, bondade e justiça.

Fontes dos dados citados:

II LENAD – Levantamento Nacional de Álcool e Drogas

Saiba mais:

– Esperança e vida – Trabalhando a dependência química (Editora Auta de Souza)

– Alcoolismo, como evitar – livro infantil (Editora Auta de Souza)

– É preciso recomeçar (Editora Petit)

– Sexo e destino (Editora FEB)

– Revista Auta de Souza (Editora Auta de Souza) http://161.35.11.199/wp-content/uploads/2020/05/Revista-Alcoolismo-01-09-.2-1-1.pdf

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