O legado da coerência

O legado da coerência

·  Ana Dubeux
anadubeux.df@dabr.com.br

Existe uma profusão de estudos sobre a fé. Assim como há insistentes tentativas de negá-la, amaldiçoá-la ou reduzi-la a uma modesta participação na nossa existência. Mas a verdade é que, independentemente de onde venha, seja de uma religião, de uma experiência sobrenatural ou da crença em algo maior, o fato é que essa

palavrinha miúda tem um poder sem precedentes — até o de curar. Quando vem atrelada a um nome forte, confiável e que emana bons sentimentos, a fé parece transbordar. É o que se tem visto antes mesmo da estréia do filme Chico Xavier, que entra em cartaz no próximo dia 2 e promete se transformar em um fenômeno das telas.

A história de Chico Xavier, que será lançada no cinema no dia em que ele faria 100 anos, já emocionou os produtores, diretores e elenco, que deram depoimentos tocantes a respeito de como a biografia do médium mexeu com a vida deles, a ponto de não conterem as lágrimas em vários momentos das filmagens. Pudera. A figura do homem franzino que passou a vida a semear o bem está acima de religiões e dúvidas. Da mesma forma como esteve o médico dos pobres Bezerra de Menezes, um cearense que adotou o espiritismo e também deixou um legado à prova de qualquer julgamento. Sua vida e obra chegaram ao cinema em 2008, numa bonita mensagem que apaziguou tristezas e fortaleceu gente de tudo quanto é lugar.

Pessoas como Bezerra de Menezes e Chico Xavier não se tornaram figuras acima de qualquer suspeita porque tinham poderes especiais, marketing pessoal ou coisa que o valha. Mas porque foram homens coerentes com um propósito: o de servir. Chico vendeu milhares de livros sem nunca ter ficado com um tostão para uso pessoal. Bezerra de Menezes entrou para a política e nunca teve um vestígio que manchasse sua reputação. São lembrados, adorados, venerados. Falar sobre pessoas assim, independentemente se é dentro de um projeto de entretenimento, como o cinema, é uma forma de eternizar qualidades raras, como a coerência.

Se cada um de nós elegesse um propósito de vida e o seguisse até o fim, certamente deixaríamos uma bela biografia, como fez, por exemplo, dona Zilda Arns, a eterna pastora da infância. Como o fez, também, doutor Ernesto Silva, que semeou nossos campos até bem pouco tempo e colhe o respeito de Brasília ainda hoje. São pessoas que se alegraram em vida partilhando com o próximo. Só a lembrança deles já emana bons sentimentos, inclusive a fé nas pessoas.

    Fonte: Correio Braziliense, domingo, 28 de março de 2010

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